Por Daiane Souza
O Supremo Tribunal Federal (STF) aprovou
nesta quinta-feira (26) a constitucionalidade do sistema de cotas
raciais adotado pelas universidades públicas brasileiras. O julgamento
teve como resultado a conclusão unânime dos 10 ministros da mais alta
corte do país quanto à improcedência da Arguição de Descumprimento de
Preceito Fundamental (ADPF) 186, proposta pelo Partido Democratas (DEM).
O
partido considera que o sistema viola a Constituição Federal por
determinar critérios de seleção com base na raça para o ingresso,
especificamente de negros, na educação superior. Primeiro a votar na
segunda sessão do julgamento iniciado na quarta-feira (25), o ministro
Luiz Fux acompanhou o voto do relator Ricardo Lewandowski, favorável a
constitucionalidade da ação afirmativa.
Equidade – De acordo
com Fux, a opressão racial dos séculos da sociedade escravocrata deixou
cicatrizes com graus alarmantes no país, especialmente no que diz
respeito à educação. Segundo ele, o sistema de cotas não configura um
ato discriminatório. “É uma classificação benigna que visa fins sociais
louváveis”, disse. “Uma coisa é vetar a discriminação, outra é
possibilitar a integração dos que a sofrem ao seu lugar de direito na
sociedade”, completou.
Em sua avaliação, a ministra Rosa Weber
afirmou que a disparidade no país é flagrante. “A pobreza tem cor no
Brasil”, disse. Ela alertou que dos 10% mais pobres da população, 75%
são pretos e pardos. “Por estes e outros dados, faz parte do papel do
Estado pelo menos equilibrar as desigualdades completas e solucionar as
desigualdades sociais”, ressaltou.
Universidade modelo – A
Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 186 foi
protocolada contra o sistema de cotas da Universidade de Brasília (UnB),
primeira instituição federal a instituir o programa em 2004. Com a sua
metodologia aprovada, o modelo da Universidade será referência para
normatizar a aplicação das ações afirmativas em todo o país.
“Com a decisão do Supremo o projeto
emancipatório da UnB a faz entrar mais uma vez para a história com uma
postura inovadora que é própria da instituição”, reconheceu o reitor da
UnB, José Geraldo de Sousa Júnior. “O sistema de cotas deve ser
considerado completo, pois é plural, democrático e aumenta as chances de
participação do negro nos melhores espaços da sociedade”, ressaltou a
ministra Rosa Weber.
Já para Carmem Lúcia e os demais
ministros que acompanharam o voto de Lewandowski, as ações afirmativas
não são as melhores opções para se reparar consequências de mais de um
século a partir da abolição da escravidão. “Porém fazem parte de um
processo diante de um quadro onde a liberdade e a igualdade de
oportunidades não aconteceu naturalmente”, enfatizou a ministra.
De acordo com a corte o sistema de cotas
se faz necessário, mas somente até que seja alcançado o resultado
esperado que é a igualdade de oportunidades e de participação nos
produtos do progresso visando um país racialmente democrático.
Para Eloi Ferreira de Araujo, presidente
da Fundação Cultural Palmares, os contornos históricos da votação levam
ao instante que precedeu a assinatura da Lei Áurea. “Ela
veio desacompanhada das possibilidades reais para emancipação da
população negra brasileira. Sinto que tivemos o fim da escravidão
somente agora com o direito à educação”, disse. “Agora falta viabilisar
aos quilombolas, o direito à terra”, afirmou referindo-se ao Decreto
4887/2003 a ser julgado pelo Supremo.
Um comentário:
PQNAB! É lançado o pré-manifesto e estatutos do PQNAB Partido Quilombo dos Negros Afrodescendentes e Brasileiro
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